O presidente brasileiro nunca escondeu que, para ele, não houve ruptura antidemocrática por parte dos militares
O presidente Jair Bolsonaro determinou ao Ministério da Defesa que sejam feitas comemorações em unidades militares em 31 de março de 1964, data em que teve início a ditadura civil-militar no Brasil, informou o porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, nesta segunda-feira 25.
Bolsonaro já aprovou a inclusão da data na ordem do dia das Forças Armadas, de acordo com Barros. Questionado sobre como serão feitas as comemorações, o porta-voz da Presidência disse que a decisão ficará a cargo de cada comando, sem dar mais detalhes.
“Aquilo que os comandantes acharem, dentro das suas respectivas guarnições e dentro do contexto, que devam ser feitas”, disse.
A cúpula militar brasileira teria pedido discrição nas comemorações para evitar um acirramento das tensões políticas no país em meio aos debates sobre a reforma previdenciária no Congresso, segundo veículos da mídia brasileira.
A data havia sido retirada do calendário oficial de comemorações do Exército em 2011 por determinação da ex-presidente Dilma Rousseff, que foi torturada no regime ditatorial. Agora, com Bolsonaro na Presidência e diversos militares ocupando cargos ministeriais, a volta do 31 de março ao calendário oficial do Exército estaria sendo avaliada pelas Forças Armadas.
Segundo Barros, Bolsonaro não considera que houve um golpe militar em 31 de março de 1964. “Ele considera que a sociedade, reunida e percebendo o perigo que o país estava vivenciando naquele momento, juntou-se, civis e militares, e nós conseguimos recuperar e recolocar o nosso país num rumo, que salvo melhor juízo, se isso não tivesse ocorrido, hoje nos estaríamos tendo algum tipo de governo aqui que não seria bom para ninguém”, afirmou.
O período da ditadura, que se estendeu de 1964 a 1985, teve início com a derrubada do governo do então presidente democraticamente eleito João Goulart e foi marcado por censura à imprensa, fim das eleições diretas para presidente, fechamento do Congresso Nacional, tortura de dissidentes e cassação de direitos.
Bolsonaro sempre afirmou que o período de 21 anos não foi uma ditadura. Durante a votação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, chegou a homenagear o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, reconhecido pela Justiça de São Paulo como torturador durante o regime militar.
A medida atraiu diversas críticas de políticos do PSOL e do PT, que afirmaram em redes sociais que a decisão de comemorar o golpe militar mostra a mostra falta de apreço de Bolsonaro pela democracia e incentiva a retomada do terror da ditadura.
O deputado federal Marcelo Freixo, do PSOL, escreveu em sua conta no Twitter que a decisão de Bolsonaro é típica de “fanáticos”.
Deputados do PSL, partido de Bolsonaro, como a deputada federal Joice Hasselmann, saíram em defesa do presidente. Joice postou uma foto ao lado de militares e disse que “é a retomada da narrativa verdadeira de nossa história”.
A decisão de Bolsonaro teve repercussão fora do país. Na Alemanha, por exemplo, os prestigiados jornais FAZ e Tagesspiegel questionaram como podem um presidente exaltar um período marcado por tantas violações dos direitos humanos.
Fonte: Carta Capital