Moa do Katendê foi assassinado em bar de Salvador com 12 facadas, depois de criticar o candidato Jair Bolsonaro
Mestre de capoeira e do afoxé, Moa do Katendê, de 61 anos, foi assassinado com 12 facadas pelas costas na noite deste domingo (7) logo após a divulgação dos resultados do primeiro turno das Eleições 2018. Ele e um irmão foram esfaqueados após uma discussão sobre política em um bar no Dique Pequeno em Salvador, bairro em que morava e que também mantinha trabalho de inclusão social.
Segundo o relato de seu irmão mais velho e que presenciou os fatos, Reginaldo Rosário, 68, um morador novo do bairro, defensor do candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, não teria gostado da posição contrária do mestre e, após uma discussão, foi em casa e buscou uma faca. Katendê foi agredido 12 vezes e não resistiu aos ferimentos, morrendo a caminho do hospital. Seu irmão Germinio do Amor Divino, 51, que o defendeu, recebeu uma facada no braço direito e foi socorrido para o Hospital Geral do Estado (HGE), onde permanece internado e sedado.
Na ocorrência do posto policial do HGE, testemunhas identificaram o autor das facadas como Paulo Sergio Ferreira, que está preso. Segundo Reginaldo Rosário, Moa estava bebendo com ele e Germinio, no Bar do João, quando o autor da facada começou a defender ideias do candidato do PSL e ouviu críticas do capoeirista.
“Moa ponderou que era negro e que o cara ainda era muito jovem e não sabia nada da história. Moa disse ainda que ele tinha consciência do quanto o negro lutou para chegar onde chegou e o quanto Bolsonaro poderia tirar essas conquistas se chegasse ao poder”, disse Reginaldo.
Ainda de acordo com o irmão das vítimas, após a discussão acalorada um dos irmãos pediu que Moa ficasse calmo, no entanto, após a situação ter sido contornada, o autor da facada teria ido em casa, retornou com uma peixeira e atacou a vítima nas costas. “Foi tudo muito rápido”, disse. Moa, que sempre foi defensor das classes menos favorecidas é mestre tradicional da Capoeira Angola da Bahia e do Afoxé (um dos fundadores do Filhos de Gandhi).
Mestre Moa
Desde que o carnaval na capital mineira começou a tomar grandes proporções, Moa do Katendê visitava a cidade para – como dizia – “ver o que esta galera está aprontando”, se referindo à relação que alguns blocos mantém com o Afoxé e a cultura afrodescendente. Além de oficinas nos blocos Coco da Gente, Axé Bandarerê e Pena de Pavão de Krishna, a capoeira também era porto seguro do velho mestre, que sempre vinha a Minas Gerais.
De acordo com Danilo França, do bloco Coco da Gente, a perda é irreparável. “Ainda não sei nem o que dizer, só que estou muito assustado”, relata. Vários grupos da cultura afrodescendente vão prestar homenagens ao mestre nos próximos dias.
Em BH, pelo menos dois grupos de capoeira irão fazer rodas em memória do mestre. Nascido em Salvador, BA, era artista ligado às tradições afrobaianas. Era mestre de Capoeira Angola da linha de mestre Bobó de Pastinha, tendo sido membro da Associação Brasileira de Capoeira Angola. Também era compositor, dançarino, ogã-percussionista, artesão e educador.
Nos primeiros passos, descobriu suas raízes aos oito anos de idade no “Ilê Axé Omin Bain”, terreiro de sua tia e incentivadora. Em 1977, sagrou-se campeão do Festival da Canção Ilê Aiyê, o primeiro bloco afro do Brasil, e em maio de 1978 fundou o “Afoxé “Badauê”, que desfilou pela primeira vez no ano seguinte e tornou-se campeão do carnaval na categoria de afoxé. Em 1995, com a união de colegas e admiradores da cultura afro-brasileira, surge o grupo de afoxé “Amigos de Katendê”.
Fonte: Estado de Minas