Festival ressalta as desigualdades e necessidade de uma política pública para os quilombos

Em sua 3ª edição, festival Canjerê ressalta as desigualdades e a necessidade de uma política pública para os quilombos

Foto: divulgação Facebook

Há 130 anos, a princesa Isabel assinou a Lei Áurea e colocou um ponto final na escravidão no Brasil. Entretanto, a assinatura do documento que determinou a libertação dos negros brasileiros não representou nenhum avanço social para eles, sobretudo porque a abolição da escravatura não foi acompanhada por políticas afirmativas e inclusivas dos novos homens e mulheres livres. Por isso, a música “Quilombo Axé” afirma em alto e bom som que “13 de maio (o dia da assinatura da Lei) não é dia de negro”. Entendendo que o dia é não de celebração, mas sim de luta e resistência, o Festival Canjerê ocupará a praça da Liberdade e alguns prédios do Circuito Liberdade, de sexta a domingo, com uma programação diversa, que se equilibra entre a festa, o protesto e a religiosidade.

“Mesmo que o dia 13 de maio não seja um dia de comemoração, é um dia de resistência. Isso vai muito além da liberdade, mas também é uma forma de ressaltar nossa luta pela demarcação dos territórios dos quilombos”, pondera Jesus Rosário Araújo, presidente da Federação das Comunidades Quilombolas de Minas Gerais – N’Golo, entidade responsável pelo Canjerê. O festival conta com a parceria do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG)

O evento se equilibra em frentes importantes da cultura negra. “O Canjerê é bem diverso, vai desde a parte da reflexão política, com debates e bate-papos, passando pelas manifestações culturais das comunidades quilombolas, até a feira onde é possível vender o que é produzido nos quilombos e o cortejo, que é o momento religioso, de encerramento”, comenta Araújo. “A cultura é baseada na religiosidade, portanto esse ato religioso é uma forma de terminar bem o festival e torcer por coisas melhores. Os tempos não estão fáceis”, completa.

A programação cultural terá shows de Pereira da Viola, Sérgio Pererê, entre outros. Além da mostra “Cinequilombola”, com filmes temáticos seguidos por debates. De maneira festiva, os quilombolas de Minas Gerais têm o 13 de maio como o marco de mais um ano de lutas. “Fazemos o protesto em forma de celebração, que é sempre algo bem característico das comunidades”, ressalta Araújo.

Haverá também uma feira permanente. Além dela, oficinas gratuitas (sem necessidade de inscrição prévia, mas com vagas limitadas) e um ciclo de debates sobre políticas públicas e análises de conjunturas dos quilombolas no Estado e no país. Destaque para a vinda de Antônio Bispo da Silva, o Nego Bispo, ativista quilombola e mestre de saberes populares da comunidade de Pequizeiros, no Piauí. Bispo tem sido um importante interlocutor das lutas quilombolas com instituições públicas de diversas esferas, entre elas universidades, que costumeiramente o convidam para compartilhar sua experiência de vida. “É uma forma de demonstrar nossa solidariedade em uma luta de âmbito nacional”, destaca o presidente da N’Golo.

Atualmente, no Estado de Minas Gerais, existem mais de 500 comunidades quilombolas, mas nenhuma delas ainda teve seu território demarcado. “Estamos trabalhando em diversas frentes para assegurar que essas comunidades exerçam seu direito sobre suas terras”, reforça Araújo. Entretanto, mesmo com avanços que ocorreram, com o reconhecimento e demarcação de algumas terras quilombolas no Brasil, o quadro, segundo Araújo, não é dos mais animadores. “Nossa luta atualmente é para assegurar as conquistas recentes que tivemos”, alerta.

Programação

O Canjerê acontece entre sexta e domingo. Toda a programação é gratuita. A feira estará na alameda da Educação, da praça da Liberdade: sexta e sábado, das 10h às 22; domingo, das 10h às 18h.

Mais sobre as atrações culturais, debates e oficinas:

iepha.mg.gov.br ou circuitoliberdade.mg.gov.br

Fonte: com informações do O Tempo

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